Numa época em que os norte-americanos apreciavam as
corridas de Sports Cars como nunca, pilotando Ferraris e Jaguar, vários pilotos
surgiram para eternidade do automobilismo mundial, chegando com sucesso a F1,
como Phil Hill e Dan Gurney. Porém, segundo o também lendário Carroll Shelby,
Masten Gregory foi o piloto americano mais rápido a correr um Grande Prêmio.
Este americano do meio-oeste tinha um estilo de pilotagem fortíssimo e era
considerado muito agressivo para sua época, mesmo com sua aparência frágil e os
óculos de grau muito alto, Gregory se destacou como um dos grandes pilotos
americanos nos anos 50 e 60. Se estivesse vivo, Masten Gregory completaria 80
anos e por isso iremos ver sua carreira. Até por que ele fazia aniversário de
quatro em quatro anos...
Masten Gregory nasceu no dia 29
de fevereiro de 1932 em Kansas, caçula de uma família abastada da cidade, que
tinha uma companhia de seguros. Aos três anos de idade, Masten viu o patriarca
da família morrer e os três herdeiros ganharam uma grande herança, mas que só
estaria disponível a eles quando completassem 21 anos de idade. Muito magro e
com a vista muito ruim, a ponto de usar óculos que os amigos diziam ter lentes
mais grossas que uma garrafa de Coca-Cola, Masten estudou nas melhores escolas
do Missouri, mas ele nunca completaria o último ano do colegial e aos 19 anos
ele se casou com Luella Hewitt. Quando completou 18 anos Gregory comprou seu
primeiro carro esportivo, no qual se apaixonou imediatamente e fez sua primeira
corrida em novembro de 1952 com um Allard comprado do seu cunhado. Gregory
abandonou ainda no começo da corrida, mas já mostrou um grande potencial e no
começo de 1953 ele já participava da tradicional 12 Horas de Sebring, utilizando
um Jaguar Tipo C. Era apenas sua segunda corrida e na terceira, Gregory
conquistava sua primeira vitória. Seria o início de uma carreira brilhante nas
corridas americanas de carros esporte.
Ao final de 1953, com apenas 21
anos de idade, Masten Gregory era considerado um dos principais pilotos
americanos e isso o fez receber uma proposta para participar de sua primeira
corrida internacional, no início de 1954, nos 1000 km de Buenos Aires.
Especialista em Carros Esporte, Gregory correu pela primeira vez na Europa em
1954 e no ano seguinte fez sua estréia nas 24 Horas de Le Mans, correndo com uma
Ferrari ao lado de Mike Sparken. Vitorioso nos carros de turismo, faltava a
Gregory a chance de disputar uma prova com os grandes pilotos da época, na
Formula 1. E ela veio em 1957. Masten foi convidado a voltar a Buenos Aires em
janeiro daquele ano e mesmo sem ter um carro oficial, o americano venceu a prova
com uma grande vantagem, chamando a atenção da equipe italiana Centro-Sud, que
participava da F1 com uma Maserati 250F particular. E Gregory faria uma estréia
de sonho, levando a pequena equipe a um improvável pódio em Mônaco, com Masten
ainda sendo o primeiro americano a marcar pontos na F1. De forma extra-oficial.
Como as 500 Milhas de Indianápolis fazia parte do calendário da F1 nos primeiros
anos da categoria, pilotos americanos marcavam pontos na F1 sem eles mesmos
saber que ‘participavam’ de um Campeonato Mundial. Masten Gregory foi o primeiro
americano a ir à Europa e correr contra as feras da F1, conseguindo fazer frente
a eles. Ainda em 1957, Gregory faria outras três corridas, com destaque para
dois 4º lugares em Pescara e no Grande Prêmio da Itália. Apenas em sua estréia,
correndo contra equipe de fábrica como Ferrari, Maserati e Vanwall, Gregory
terminou o campeonato em sexto lugar. E participando apenas da metade das
corridas!
Porém, Masten Gregory sofreria
um baque enorme ainda no começo de 1958 quando ele sofre um sério acidente numa
corrida de Sports Cars em Silverstone, ficando alguns dias no hospital e
prejudicando sua temporada na F1, onde participou de algumas corridas sem muito
sucesso. Contudo, as boas exibições de Masten Gregory não foram esquecidas e
para 1959 ele conseguiu pela primeira vez um bom cockpit como piloto oficial da
Cooper, ao lado de Jack Brabham e Bruce McLaren. O pequeno carro de John Cooper
revolucionaria a F1 com seu minúsculo motor traseiro que daria o primeiro título
a Brabham. Gregory mostraria sua agressividade habitual, conquistando um
terceiro lugar no Grande Prêmio da Holanda e um segundo em Portugal, mas um
acidente numa corrida em Goodwood, com um Jaguar, o deixou de fora das duas
corridas finais do campeonato. Porém, mesmo com os bons resultados, Gregory se
indispôs com John Cooper no final de 1958 e ele estava fora da equipe. Conta a
lenda que Masten só foi demitido por que ele era mais rápido do que Brabham e
Bruce McLaren, mas como o australiano era muito amigo de Cooper, ele ficou na
equipe. E Gregory não. Esse episódio praticamente acabou com a carreira de
Gregory na F1, pois o americano não participaria mais de nenhuma equipe de
fábrica, tendo que se conformar com equipamentos inferiores ou de segunda mão.
Masten Gregory participou de corridas de F1 até 1965, quando fez sua última
prova com um cartel de 38 corridas, 3 pódios e 21 pontos.
Muito se fala que Gregory tinha o talento
suficiente para se tornar o primeiro americano a se tornar Campeão Mundial de
F1, mas como ele não conseguiu outra equipe de fábrica após sua conturbada
passagem pela Cooper, ele se desmotivou e passou a focar mais na sua antiga
paixão, os Carros Esporte. Durante as 24 Horas de Le Mans de 1960, Gregory
marcou a melhor volta daquela edição com Maserati Birdcage T61, sendo o primeiro
americano a fazê-lo. Em 1961 ele venceu os 1000 km de Nürburgring com sua
Maserati ao lado de Lloyd Casner e quando a Ford iniciou sua famosa aparição em
Le Mans, Gregory foi um dos primeiros pilotos a competir com os carros
americanos. Em 1964 Gregory alinhou um mítico Ford GT 40 com Richie Ginther, mas
acabou abandonando apenas na quinta hora. Então, no ano seguinte, Masten Gregory
é chamado pela NART (North American Racing Team) para participar da corrida em
Le Mans com uma Ferrari 275 LM ao lado do promissor austríaco Jochen Rindt. A
Ford investia ainda mais forte para conseguir derrotar a Ferrari e a própria
montadora italiana tinha sua equipe oficial para fazer frente aos americanos.
Conta a lenda que Gregory, sabedor que não tinha chance de vencer em condições
normais, combinou com Rindt para andarem o mais forte possível, apenas para se
divertirem e liderarem o maior tempo possível. Com os times oficiais de Ford e
Ferrari se resguardando a maior parte do tempo para não destruírem seus carros
na maratona francesa, a dupla Gregory/Rindt andaria na frente o mais forte
possível para ver no que daria. Realmente o ritmo da Ferrari da NART era
alucinante e poucos acreditavam que os dois chegariam ao fim. Só que o tempo foi
passando e nada da Ferrari 275 LM quebrar. De forma surpreendente, Masten
Gregory e Jochen Rindt conseguiram se segurar na frente e conseguiram a
improvável vitória na França.
Essa foi a principal vitória na
carreira de Gregory. Além de dar a primeira vitória da Goodyear em Le Mans,
Masten também conseguiu a última vitória da Ferrari em Sarthe, marcando seu nome
definitivamente na história do automobilismo. Ainda em 1965 Gregory participou
de sua única edição nas 500 Milhas de Indianápolis, fazendo uma boa prova até
abandonar. Depois da vitória em Le Mans, Masten participaria apenas de corridas
eventuais, correndo em carros famosos como o Porsche 908 e o Alfa Romeo T33/3.
Porém, quando seu amigo Jô Bonnier morreu em 1972 na edição das 24 Horas de Le
Mans, Gregory resolveu abandonar as pistas definitivamente. Os parcos resultados
na F1 não mostraram o real talento de Masten Gregory, mas seu estilo ousado e
agressivo o fez entrar na história do automobilismo, a ponto de muitos pensarem
que ele acabaria se matando numa pista de corrida. Porém, essas mesmas pessoas
que achavam Gregory não viveria até os 30 anos (até mesmo o americano duvidava
disso...), diziam que ele era uma talento excepcional. Contudo, ao contrário das
previsões, Masten Gregory viveu o bastante para morrer aos 53 anos de idade, no
dia 8 de novembro de 1985, de um ataque do coração enquanto dormia, na Itália.
Muito respeitado, como merece ser todo grande piloto.
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